quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sete por cento, e agora? Um plano precisa-se

Pronto, chegámos lá, à tal fronteira inventada da nossa desgraça, o limite a partir do qual o ministro das finanças é (era?) de opinião que o FMI devia vir tomar conta de nós.

Mas é mesmo assim? Confesso que não consigo perceber. Visitando a blogosfera e lendo os jornais encontram-se opiniões de todos os tipos, desde a de que o FMI é que é bom e nos deve pôr na ordem, venha o FMI!, até à que jura que culpa é do liberalismo e da Alemanha e que a revolução europeia e social é que é.

Na realidade, ninguém sabe bem o que é melhor fazer, há demasiadas variáveis e imponderáveis, não se consegue uma linha de acção consistente sem uma análise em profundidade. E análises em profundidade não são a especialidade dos comentadores de jornais, muitas vezes engajados politica ou ideologicamente (incapazes de pensar portanto), e dos políticos que vivem de boutades, bitaites e showoff feito com o dinheiro que não é deles. Ainda não vi explicado o que o FMI faria de diferente que não esteja já previsto no orçamento, ou como vamos conseguir fazer a revolução a tempo de salvar a nossa economia.

Enfim, acredito que há gente por aí que sabe pensar, tenho visto indícios por aí, a questão é se quem tem a capacidade de acção - o poder político - a quer ouvir, e agir em conformidade, unindo esforços com quem discorda e caminhar para a recuperação.

O que falta? Uma análise em profundidade e para além das ideologias da situação actual, quanto devemos, quanto precisamos, quem de nós precisa de dinheiro, para onde está a ir o que gastamos, quais as despesas menos cruciais? Como podemos ganhar mais? Quem nos pode ajudar? Como podemos ser ajudados? Sem saber como estamos, como poderemos descobrir o rumo certo?

 A seguir, um plano de acção. Identificar linhas de acção, meios requeridos, possíveis resultados e graus de risco. Uma estratégia de acções a curto e médio prazo (as reformas necessárias demoram muito tempo para serem bem feitas e resultarem, não resolvem neste momento). E uma estratégia não se faz com sound bytes na TV e gritaria com a oposição. É necessário sentido de estado, inteligência e clarividência. E, o mais importante, pessoas qualificadas, patriotas e inteligentes com poder para fazer o seu trabalho.

Como liderar a elaboração de tal plano? Não certamente pensando que se sabe tudo, nem ouvindo os que nos dizem apenas o que queremos ouvir, nem dando ordens sem nexo aos lambe-botas de serviço que concordam sempre connosco, os tristemente famosos yes-boys!

O diagnóstico pode começar no facto de a dívida pública estar a crescer quase linearmente nos últimos 10 anos (ver por exemplo aqui) e que nesse período de tempo o crescimento de económico de Portugal ter sido dos piores do mundo. A crise de 2008 só pôs a descoberto uma situação de "sapo a ser cozido em lume brando sem dar por isso" que vem muito de trás. Só umas Cassandras que andam por aí insistiram em se preocupar.  E qual o efeito de pertencer à zona Euro, com regras pouco adequadas à nossas situação? Não parece ter ajudado nada...

E como possível linha de acção, será que se pode convencer o BCE, a Alemanha e a Europa a adaptar as regras de modo a facilitar a nossa recuperação? Merkel parece estar mais preocupada em castigar os PIIGS, e no interesse da Alemanha, do que em resolver a situação. Não se pode convencer a senhora a estar calada? É que cada vez que ela fala, os juros sobem... Multar os países em dificuldades ajuda a situação? Não me parece. Uma acção conjunta dos países em dificuldade teria peso acrescido? E declarações duras oficiais, poderiam ter algum peso numa Europa anquilosada habituada a resolver tudo nos gabinetes? Por vezes falar grosso resulta, desde que com argumentos sérios. E quem é o mercado? Como se pode alterar a relação de forças e baixar a taxa de juro? A nossa diplomacia (que parece ser boa) podia ter um papel relevante aqui.

Noutro registo, Alberto João Jardim, um especialista a lidar com financiamentos externos e perdões de dívidas de territórios, pode ter um papel importante nesta linha. Que venha para o Continente e que ajude Portugal a transformar-se na bonita Ilha da Madeira!

Para as reformas de fundo será necessário mais. Tempo, inteligência, trabalho em conjunto, humildade, coragem e liderança.


Actualização: um comentário na fonte original do gráfico da evolução do PIB chama à atenção que o número que se deve utilizar é o PIB per capita, o que faz naturalmente todo o sentido. Entretanto o autor do gráfico já comentou essa questão e as conclusões são, penso, similares: não há nenhuma diferença fundamental (embora haja nuances). Se é verdade que a crise internacional fez despoletar o problema e o agravou, também é verdade que a situação de gastos públicos pouco eficazes para o crescimento já vem muito de trás.

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