segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quem tem farelos?

Pronto, já chega. Não posso mais estar calado. Por este andar vamos todos acabar a comer farelos. Se tivermos sorte.

Já chega! Nunca fui dado a estas coisas mas já chega de comentários de sofá, vociferando sem consequências para o boneco da TV.

A tarefa de quem nos governa, como a dos treinadores,  é mais difícil do que parece do meu sofá. Mas a coisa chegou a um tal ponto que nem eu, circunspecto em público por natureza, posso mais ficar a ver acontecer-nos tudo isto e ficar calado. O sucesso, mesmo de um País, começa com ideias, boas ideias. E parece que as ideias e discussões com bom senso que vai havendo por aí não chegam a influenciar o poder, submergidas por bitaites, tiradas ideológicas mal aprendidas, utopias irrealizáveis e desprezo mútuo entre os intervenientes.

Ao longo dos anos fui ficando cada vez mais inquieto com o destino que antevia para Portugal.

Do FMI em Portugal não tenho memória séria. Lembro-me do "Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas" e não gostei. Ter dúvidas é sinal de inteligência. Enfim, as regras da política têm destas coisas mas não havia necessidade. Resmunguei, desconfiei e consenti, é a minha natureza.

Seguiu-se o diálogo, bem intencionado mas inadequado e em minoria na assembleia e foi o regabofe e o pântano. Eu vociferava para a TV: "mas que raio, tu és governo, falas em nome de todos , não estás ao mesmo nível, não pode ser diálogo, é auscultação! Olha que eles aproveitam-se!" Mas não me ouviram...

Pelo meio, o Euro apareceu por aí e temi que sentir-me alemão não durasse muito. A falta de mecanismos de controlo macroeconómico e conhecer os próceres cá do burgo preocupavam-me. E disse para o lado, "hum, isto ainda vai correr mal...". Mas enfim, a esperança e tal, tínhamos sido bons alunos, ainda confiava.

Seguiu-se a tanga e a coisa começou a apertar. Toda a gente de boa vontade percebeu e dispôs-se a fazer sacrifício. Mas não serviu de lição. O tanga foi para a Europa, certamente lá veste-se melhor e deixou por cá um menino guerreiro a mandar no pagode. Foi merecido. Só consegui rir e chorar.

A nova esperança chegou finalmente. Mas não era nova nem de confiança. Rapidamente se tornou uma máquina de propaganda tão eficaz e arrogante como ignorante, teimosa e sem visão. E os PIN, as PPP, o Aeroporto e o TGV?  Porreiro, pá!

E agora finalmente, o orçamento crítico! Os milhões que devemos, os juros que não vejo como poderemos pagar, a falta de ideias para sair disto airosamente e o jogo continua, acusações mútuas, desrespeito, ausência de boas ideias. Como chegámos a uma situação tão crítica tão depressa sem dar por isso? Um viver podre em que não é o valor que conta e é premiado, onde a liberdade se afoga em burocracia, onde o estado de direito está em perigo, onde quem pode não liga e quem liga não pode. Assim não vamos lá! Uns só se mexem para se safar e outros só esperam que os salvem, sem se mexer.

Pois se é Sebastião que esperam aqui têm um! Não que devam esperar de mim o mesmo que do outro (mas pode ser que isso não seja mau...)

Sou Sebastião Nunes da Gama e contra minha natureza decidi juntar-me à blogosfera, ao Medina Carreira e a todos os cidadãos de boa vontade para fazer alguma coisa pelo meu país.

Pois tem que haver solução e a mudança está na mão de todos, com clarividência, criatividade e bom senso. E todos os cidadãos têm a sua quota-parte de responsabilidade . Não digo que seja igual, mas todos a têm. Deixe a bancada e entre em acção. Ou fazemos qualquer coisa ou vamos todos acabar a comer farelos. Se os pedincharmos e, por caridade, no-los derem... Proteste, proteste sempre! A palavra é a espada da democracia!

Eu não me vou calar mais.

Não mais!

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