quarta-feira, 23 de março de 2011

Governo de iniciativa presidencial

O governo vai certamente cair hoje e ninguém vai ter saudades dele. O caminho que tem tomado tem sido claramente errado, prosseguindo políticas erradas e tornando a situação de Portugal ainda mais difícil. O governo cai e depois o que acontece?

As declarações públicas de vários responsáveis políticos apontam para que vá haver eleições. Se a continuação do governo é, desde há muito tempo, insustentável será que eleições é a melhor solução? Serão vários meses de inacção política sem endereçar os problemas graves que nos assolam, mais uma perda de tempo que piorará ainda mais a nossa situação. E corre-se o risco de as eleições não resolverem nada: se PSD+CDS não obtiverem a maioria absoluta, a situação será similar à actual, com a agravante de se ter desperdiçado ainda mais tempo. E este risco não é desprezável. Neste momento toda a gente está farta do primeiro ministro mas a máquina de propaganda do PS é fenomenal e as propostas do PSD não parecem ser do agrado da maioria das pessoas, nomeadamente o que foi sugerido nas sugestões de revisão da constituição, por exemplo no que diz respeito à saúde. Isto foi aliás muito bem aproveitada pela máquina de propaganda do PS e justificou a ausência de maioria absoluta do PSD nos resultados das sondagens, apesar actuação lamentável do governo no último ano. É duvidoso que a direcção do saco de gatos esfomeados de poder em que o PSD está transformado consiga, ou saiba como, resolver os maiores problemas de Portugal, e os eleitores sentem isso. Corre-se o risco de haver voto de protesto em grande escala, como começou a acontecer nas eleições presidenciais, e a situação ficar ainda mais complicada.

O PSD aliás não deve estar com grande vontade de governar neste momento. Eles sabem que terão que implementar medidas difíceis e impopulares que lhes podem fazer perder o poder rapidamente. Mas o mais importante é que PSD e PS, por serem partidos de poder, estão dominados por gente mais interessada em tirar vantagens pessoais do que no país. As direcções partidárias, admitindo que são de boa vontade e de intenções puras, dependem desta chusma contra cujos interesses qualquer governo que queira salvar Portugal terá que lutar. Um governo emanado de um partido muito dificilmente conseguirá ir contra a sua base de apoio partidária, e ainda menos se houver maioria absoluta, como tem sido demonstrado pela história recente.

Face a este quadro, o que se pode fazer?

O presidente pode escolher uma personalidade de qualidade incontestável e afastada da política para liderar um governo de iniciativa presidencial. Esta solução tem as vantagens de libertar os partidos de terem que governar nesta altura tão difícil e impopular (em particular o PSD) e de um governo destes ser independente dos aparelhos partidários, podendo mais facilmente governar sem ter que contentar interesses particulares. O PSD ficaria contente por não ter que governar, o CDS-PP por não ter que entrar num governo nesta situação, o PS aliviado por sair do inferno que criou e ter oportunidade de se reconstruir longe do poder, o BE e o PCP contentes por continuar a haver uma "maioria de esquerda" mas verem-se livres do PS no governo. Seria um governo de salvação nacional sem controlo directo da clique partidária, só vantagens!

Uma vez que há "maioria de esquerda", deveria ser escolhida uma pessoa de centro-esquerda. assim de repente lembro-me por exemplo de António Barreto. É inteligente, equilibrado, tem experiência governativa e obra feita.

Infelizmente não vai acontecer. O presidente Cavaco Silva não gosta de governos de iniciativa presidencial e ainda menos de ter que se responsabilizar por um. Não acredito que o PS e o PSD consigam ver as vantagens desta situação. E duvido muito que o António Barreto aceitasse.
É pena. Podia ser o primeiro passo para uma mudança de regime. De outro modo, não estou a ver que aconteça sem muito mais dor para todos. E por este andar até farelos vão faltar...

2 comentários:

  1. ilusões.....Título de Richard Bach para que não se ultrapassem as ditas regras da corte.

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  2. Até do governo de santana Lopes se há-de ter saudades nas décadas que aí vêm

    Tal como Cavaco daqui a 12 ou mais anos se estiver vivo sócrates alcançará a presidencial cadeira

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